A necessidade de formar arquitetos e urbanistas mais conscientes sobre as organizações jurídicas e tributárias da categoria foi assunto unânime nos quatro dias da Semana Itinerante do projeto Trabalhadores Articulados em Benefício da Arquitetura (T.A.B.A.) no Paraná. Passando pelas cidades de Curitiba, Lapa, Guarapuava e Foz do Iguaçu, entre os dias 10 e 13 de abril, a atividade levou a cartilha e as oficinas práticas para mais de 60 profissionais e estudantes. O T.A.B.A. é uma iniciativa da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) em parceria com o escritório Arquitetura Humana e Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU Brasil). A Semana Itinerante foi organizada pelo Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado do Paraná (Sindarq-PR) com apoio do CAU/PR.
De acordo com a diretora-geral do Sindarq-PR, Iara Beatriz Pereira Falcade, os encontros reuniram diferentes públicos e trouxeram à tona os debates sobre a Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (Athis) enquanto um importante espaço de trabalho para a arquitetura. Um dos temas de discussão é a ampliação da Athis e o aprofundamento do seu campo de formação. “Foi incrível termos levado a atividade para territórios urbanos e, ainda, um território de reforma agrária, o Assentamento Contestado. Acredito que foi a primeira experiência do T.A.B.A. com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Isso possibilitou reforçar as distintas necessidades dos espaços urbanos e do campo, e mapear o quanto isso implica em pensar e fazer arquitetura de formas diferentes. Há uma história no Brasil em disputa, e nela existem populações que podem contar com a força de trabalho das arquitetas e dos arquitetos. Por isso, temos que seguir nos organizando coletivamente”. Iara ainda afirma que o sindicato deve seguir com uma mobilização para levar o projeto para dentro das universidades no Paraná e inserir as áreas de atuação e a organização jurídica na formação dos profissionais.
O vice-presidente da FNA, Maurilio Chiaretti, que acompanhou as atividades em Curitiba (PR), destaca que “há uma deficiência de formação para essa parte jurídica e contábil. Por isso, a ideia é transformar a cartilha e o T.A.B.A. em um material consolidado que possa dar os primeiros nortes aos arquitetos e às arquitetas, para quem ainda está na graduação ou para quem já saiu”. Chiaretti, que também tem uma vivência na estruturação das cooperativas no estado de São Paulo, destaca a importância de manter os profissionais em contato uns com os outros e da troca de experiências entre a classe. “Nosso campo de atuação é vasto, só precisamos ajudar os demais colegas a compreenderem todas as possibilidades e encontrarem seus próprios redirecionamentos”, resume. Uma das ações da Federação e das entidades e instituições representantes é a aprovação do Microempreendedor Profissional (MEP) na Câmara dos Deputados, como uma forma de regulamentar e garantir o acesso dos arquitetos à seguridade social e possibilitar o trabalho digno em outras áreas.
Para a sócia do Arquitetura Humana (AH!) e uma das idealizadoras do projeto T.A.B.A. Taiane Beduschi, a participação dos movimentos sociais nesses espaços de formação também são extremamente importantes. Em Lapa (PR), a coordenação pedagógica da Escola Latino-Americana de Agroecologia (ELAA), vinculada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, participou da atividade dando uma contextualização da desigualdade social brasileira. “Ouvir as pautas vindas diretamente dos grupos que mais precisam do acesso à terra e à moradia também é uma forma de organização do nosso trabalho. Os sindicatos são espaços que atuam lado a lado dos movimentos populares e do povo, por isso, podemos ser potencializadores desse viés social do arquiteto. Tem que ser possível e virar uma realidade trabalhar dignamente com Athis, mas precisamos lutar por melhores condições e por mais políticas públicas”. Karla Moroso, também sócia do AH! e idealizadora do T.AB.A., destaca “que todo o processo de reestruturação do mercado de trabalho passa por essa contextualização das cidades e da sociedade”. Ela afirma que compreendendo o quadro das desigualdades, desregulamentações e as possibilidades é possível atuar coletivamente por melhores considerações nas relações trabalhistas.
ERSA Sul
A Diretora de Relações Institucionais do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado de Santa Catarina (Sasc), Juliana Dreher, também acompanhou as atividades da Semana Itinerante e participou do pré-Encontro Regional de Sindicatos de Arquitetos e Urbanistas do Sul do Brasil (Ersa-Sul) no dia 10 de abril. Com a participação do Sindarq-PR e do Saergs, representado pelas profissionais Karla e Taiane, foi definido que o Ersa-Sul de 2023 será realizado presencialmente na ELAA. O encontro, que ainda não tem data marcada, deve traçar estratégias para aproximar os profissionais e estudantes das entidades e debater a presença dos sindicatos no interior dos estados.